quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A UNIVERSIDADE E O DESPORTO: Exigências e Desafios


Como qualquer outra instituição, a Universidade tem de nortear-se por uma preocupação de eficiência no desenvolvimento das suas políticas e na busca de cumprir com os seus objectivos. Sendo um espaço de conhecimento, a Universidade tem de ser uma instituição de referência para a sociedade neste âmbito. Para isso não poderá esquecer que conhecimento não é só um conteúdo mas também um processo (metodologias, suas aplicações e implicações) que transforma quem o domina e utiliza, para além dos efeitos que pode construir e produzir.
Nem sempre este espírito tem norteado a vida Universitária. Momentos têm existido onde a pretexto de condicionamentos conjecturais ou estruturais, esta instituição tem sido privada de alguns destes pilares. A aparente eficiência de uma visão centrada no imediato leva à tentação de ficar por uma superficialidade que no curtíssimo prazo pode enganar alguns, mas que faz perder os benefícios que poderiam ser gerados (por isso é enganador), transformando sobretudo os ganhos que podiam ser obtidos em simples aparências, pois os processos que poderiam ter gerado as vantagens não foram cumpridos.
A semelhança entre o processo Desporto e o processo Universidade é aqui evidente. As medalhas daquele e os diplomas e carreira deste são precisamente o mesmo. É fácil comprar umas medalhas e/ou uns diplomas, o esforço necessário num caso e noutro nem é grande. Mas o que nos fica? Uns bocados de metal e de papel que para nada servem (bem, podem servir para durante algum tempo enganarem os incautos). Não tendo sido cumprido o processo transformador de quem o viveu, nada fica para além de pobres aparências.
A construção de um conhecimento inovador de ponta, o incentivo ao confronto de ideias, de conhecimento, a liberdade de se poder debater são algumas das funções exigidas (facultadas?) à Universidade e aos universitários, pois são o processo que os leva a amadurecerem e a evoluírem, ganhando capacidades e potencialidades que antes não possuíam, ficando capazes de realizar novas obras. Formando-se (transformando-se num sentido positivo) e não enformando-se (metendo-se numa forma) o que não passaria de ser mais do mesmo.
A liberdade tem aqui um papel crucial. É preciso ser-se livre para se poder inovar, educar, formar. Mas esta liberdade traz consigo um sentido de responsabilidade. É preciso ser-se responsável pela nossa liberdade, pelos nossos actos, pelas nossas opiniões, por nós e pelos que connosco partilham este caminho.
Nem sempre este espírito, que alguns classificam de altruísta (mas que não passa de estupidez pois faz-nos perder os benefícios que poderíamos obter de um outro modo), tem sido sentido ou vivido na Universidade. É bem mais cómodo fazer a viagem sozinho (uma estafa, mas enfim…) do que ter de partilhar, confrontar e debater conhecimento, ideias, vontades e até sonhos. É como no Desporto fazer musculação sem colocar os pesos nos alteres, é muito mais fácil de fazer os movimentos mas efeitos … nenhuns (como dizíamos estupidez), para além de perdermos tempo.
Há um sentido no ser Universitário que nos obriga a superar, a ter de assumir as nossas posições, as nossas convicções e que nos tem de distinguir dos demais. É preciso ser crítico, ter um conhecimento que nos permita assumir a licença que temos para… decidir!
É precisamente este poder de decisão que fará a diferença entre os bons e os outros. Os que decidem bem e os que não (que ou não decidem ou decidem mal). Os que assumem a sua licença (o sentido de ser licenciado) para decidir e os que preferem replicar um conjunto de técnicas ou receitas memorizadas. Os que têm sentido crítico e os que se limitarão a reproduzir o que lhes foi transmitido.
É este também o espírito do Desporto: a superação. É a competição constante em busca dos limites humanos, visando sempre alargá-los e descobrir que o impossível não existe, que é sempre possível fazer mais e melhor. Ao contrário do que alguns possam ainda pensar ou fazer crer, a expressão, “na desportiva” não significa (não deve significar) “à balda”, sem esforço ou empenho, mas pelo contrário um sentido de superação de se descobrir a si próprio, de conhecer os seus limites e de sentir novas emoções.
Mas também no Desporto há quem queira não ser mais do que um repetidor com um pouco mais de músculos do que os outros, não percebendo que nem o processo é eficiente por não fazer os campeões (qualquer nível, desde os iniciados ao mais alto escalão competitivo) procurados, nem será interessante ver um desportista igual aos outros só com mais alguns cavalos (alguns dirão burros) vapor de potência.
Este capital do Desporto, aquilo que faz dele um espectáculo, um meio de acção para a educação, para a saúde, para o lazer, etc. (um enorme mercado mundial que não podemos delapidar) tem de ser obrigatoriamente aproveitado pelos profissionais do Desporto, entre os quais os licenciados em Ciências do Desporto têm uma responsabilidade acrescida. Estes não podem ser iguais aos demais, nem sequer desejar repetir as receitas que porventura possam ter dado bons resultados outrora. Os licenciados em Ciências do Desporto estão obrigados a inovar, a criar o Desporto do futuro tendo por base um conhecimento de ponta e com um sentido crítico que lhes permita ter a coragem de assumir esta responsabilidade – o que não é mais do ser universitários (note-se que ser universitário não é o mesmo do que andar numa Universidade).É isto que o Mundo, a Universidade e o Desporto exigem de todos: o Melhor! Sempre! Só o Melhor tendo em conta a função que se desempenha e os objectivos que devemos cumprir!

Covilhã, 27 de Setembro de 2009
António Vicente

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