
Mas o que é que esse conceito de variabilidade associada ao desporto tem a ver como a genética? A resposta a essa questão reside na origem dessa mesma variabilidade. A variação de determinada característica (fenótipo), por exemplo o VO2máx, explica-se pela influência genética em combinação com factores ambientais de diversa ordem, contando ainda com o provável erro experimental associado ao registo do respectivo fenótipo. Existem fenótipos quase exclusivamente hereditários, como a cor dos olhos, mas temos outros que resultam da influência conjunta de factores genéticos com determinados contextos que são essenciais à expressão de determinado gene – p.e. o treino e a alimentação na melhoria da força muscular.
Concentrando a nossa atenção nos factores genéticos, sabemos da existência de cerca de 23000 genes comuns a todos nós. No entanto, o que diferencia o campeão olímpico de todos os outros está na ligeira variação da estrutura desses genes que afectam a sua funcionalidade e, por consequência, a manifestação de determinado fenótipo mensurável. Essa variação na sequência de nucleótidos, designada por polimorfismo, é o que os torna únicos (em parte) e diferentes de todos os outros. Cremos, sem qualquer dúvida, que será apenas possível o aparecimento de atletas de expressão física extraordinária em condições de rara convergência entre factores genéticos e ambientais.
O desafio actual é saber quais os genes determinantes, identificar as suas variações polimórficas e descrever por que mecanismos exercem os seus efeitos em determinado fenótipo. Uma abordagem comum estará no estudo de genes candidatos, que resulta do exame prévio da literatura científica disponível, sugerindo a importância de determinado sistema na regulação fisiológica de um dado fenótipo. Estuda-se, portanto, a relação entre a variante polimórfica do gene candidato e a magnitude consequente de um fenótipo particular.
O carácter batedor desta linha de investigação no âmbito das Ciências do Desporto oferece o potencial de facilitar novas descobertas, que alargarão o nosso conhecimento relativo a fisiologia do exercício e dos aspectos físio-patológicos decorrentes da sua prática. Adivinhamos, por isso, futuras aplicações resultantes e noções mais profundas dos mecanismos que controlam muitas das variáveis mais determinantes e estudadas no âmbito da performance desportiva.
Aldo M. Costa
Universidade da Beira Interior; CIDESD)
2009-11-26
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